Quando menor...
alguma vez alguém me disse que eu iria morrer.Eu nunca me lembro exata e especificamente das coisas ,e essa não é uma exceção.Mas,realmente eu lembro do impacto que isso gerou em meus pensamentos e na forma como eu via o mundo.
De repente tudo se tornou sombrio,ameaçador e limitado.Eu começava a me questionar o funcionamento do fim eterno.¨Como que alguém sente que deixou de existir?¨,¨Como não sente e não se pensa nada?¨.Realmente,tais pensamentos repercutiam muito em minha mente,lembro-me de filosofar à respeito,da forma mais prematura do pensamento filosófico,o questionamento juvenil.
Eu delirava sobre o assunto até adormecer.E,nos anos que se seguiriam,eu não cessaria minha dúvida.Todo o pensamento católico,à mim impregnado,me deixavam ainda mais confuso e paranóico.Tentava abster-me completamente dos mais remotos pecados,pelo menos durante a primeira semana.Para que pelo menos se morresse não me ferrasse tanto.
Concluí que era muito complexo para uma criança,não cometer nenhuma atitude impura.
Tudo piorou quando tomei ciência de que não se morre apenas por ¨velhice¨,acidente ou morte.Depois de dar um tempo com as atitudes e comportamentos para adentrar no Paraíso,eu havia suscitado o pensamento de,apenas tentar evitar qualquer acidente e me preocupar com toda a questão da mortalidade quando mais velho.As minhas novas descobertas sobre ¨Como bater as botas¨,me tornaram uma criança ainda mais fragilizada e paranóica;Eu babava muito em minhas camisas,já que passava boa parte do tempo com alguma parte da minha camisa na boca à fim de me higienizar.
Sim,eu havia convencido à mim mesmo de que tecidos são ótimas para combater bactérias.Quando encostava em algum produto com a advertência de que é tóxico,bom,então me adequava de todos os processos de higienização emergencial ,e diversos pensamentos de que estava prestes à morrer,além de algumas rezas;pareciam as únicas opções.E eu nem comecei à falar dos Sprays para matar insetos.
Felizmente todo esse frenesi se esgotou,já que se revelou apenas uma fase,mas antes de ter alguma doença,ou realmente correr riscos,e presenciar a morte de algum parente;o pensamento voltaria à me assombrar ocasionalmente.
O maior problema do ser humano,talvez seja a ciência de que um dia morrerá,essa é a nossa principal divergência com o resto do reino Animalia.A partir do medo do desconhecido,cria-se uma cultura de tentar apaziguar os receios com mitos e ciência.
Mas o mais difícil seria admitir que não existe nada para ser descoberto,ainda quando criança,descobri que a maior parte do que consumimos,o que nos atrai,o que nos dá sensação de estarmos vivos,por mais irônico que pareça,é o flerte com a morte,a adrenalina ao mesmo tempo prazerosa e ameaçadora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário